O barulho e o movimento começaram mais cedo do que de costume na cidade. Quando a noite deu lugar à madrugada, já havia gente nas ruas. Os vendedores se colocavam nas esquinas das avenidas mais trafegadas. Os lojistas abriam as portas de suas lojas. As crianças acordavam com o latido alvoroçado dos cães vadios e das queixas dos jumentos que puxavam as carroças.
O dono da hospedaria levantara mais cedo do que a maioria dos habitantes da cidade. Afinal de contas, a hospedaria estava cheia, com todas as camas ocupadas. Todo tapete ou esteira disponível tinha sido usado. Logo todos os fregueses começariam a levantar e haveria muito trabalho a fazer.
Nossa imaginação se inflama pensando na conversa do estalajadeiro com sua família à mesa do café. Alguém mencionou a chegada do casal jovem na noite anterior? Alguém cuidou deles? Alguém comentou a gravidez da moça no jumento? Talvez. Talvez alguém falou no assunto. Mas, na melhor das hipóteses, ele foi levantado e não discutido. Não havia tanta novidade assim sobre eles. Tratava-se possivelmente de uma das várias famílias que não pudera ser recebida naquela noite.
Além disso, quem tinha tempo para falar sobre eles quando havia tanta excitação no ar? César Augusto fez um favor à economia de Belém quando decretou que houvesse um recenseamento. Quem podia lembrar-se de uma época em que se fizesse tanto comércio na cidade?
Não, é duvidoso que alguém tivesse mencionado a chegada do casal ou atentasse na condição da moça. Todos estavam ocupados demais. O dia já raiara. O pão diário precisava ser feito. As tarefas da manhã tinham de ser feitas. Havia tanto para fazer que ninguém tinha tempo para ficar imaginando que o impossível acontecera.
Deus entrara no mundo como um bebê.
Mas se alguém entrasse no curral de ovelhas na periferia de Belém naquela manhã, que cena peculiar contemplaria.
O estábulo cheira como todos fazem. O mau cheiro provocado pela urina, excremento e ovelhas paira forte no ar. O chão é duro, o feno escasso. Teias de aranha pendem do teto e um ratinho atravessa correndo o chão sujo.
Não podia haver um lugar menos adequado a um nascimento.
De um lado se encontra um grupo de pastores. Eles estão sentados silenciosamente no solo, talvez perplexos, talvez reverentes, mas sem dúvida extasiados. Sua vigília noturna fora interrompida por uma explosão de luz dos céus e uma sinfonia de anjos. Deus vai até aqueles que têm tempo para ouvi-lo — e assim, naquela noite sem nuvens, ele fora até os simples pastores.
Junto à jovem mãe se assenta o pai cansado. Se alguém está cochilando, esse é ele. Não consegue lembrar-se da última vez em que pôde sentar-se. E agora que a excitação diminuiu um pouco, agora que Maria e o bebê estão confortáveis, ele se apóia na parede do estábulo e sente seus olhos se fecharem. Ele ainda não entendeu tudo. O mistério do evento o intriga. Mas não tem no momento energia para lutar com as perguntas. O importante é que a criança está bem e Maria a salvo. A medida que o sono vem, ele lembra do nome que o anjo lhe dissera para usar... Jesus. "Nós o chamaremos Jesus."
Maria está bem desperta. Como parece jovem! Sua cabeça repousa sobre o couro macio da sela de José. A dorfoi embora como por encanto. Ela olha para o rostinho da criança. Seu filho. Seu Senhor. Sua Majestade. Neste ponto da história, o ser humano que melhor compreende quem é Deus e o que ele está fazendo é uma adolescente num estábulo mal cheiroso. Ela não pode tirar os olhos dele. De alguma forma Maria sabe que está carregando Deus nos braços. Esse é então ele. Ela lembra as palavras do anjo. "O seu reinado não terá fim."
Ele parece qualquer coisa menos um rei. Seu rosto é avermelhado, lembrando uma ameixa seca. Seu choro, embora forte e saudável, continua sendo ainda o de um bebê indefeso, lancinante e agudo. Ele depende absolutamente de Maria para seu bem-estar.
Majestade em meio ao mundanismo. Santidade misturada à imundície do excremento e suor das ovelhas. A divindade entrando no mundo no chão de um estábulo, através do útero de uma adolescente e na presença de um carpinteiro.
Ela toca a face do Deus-menino. Como foi longa a sua jornada!
Esta criança superara o universo. Os trapos que o aquecem eram os mantos da eternidade. A sala dourada de seu trono fora esquecida em favor de um curral de ovelhas imundo. E os anjos adoradores foram substituídos por pastores bondosos mas perplexos.
Enquanto isso a cidade fervilha. Os mercadores não sabem que Deus visitou o seu planeta. O estalajadeiro jamais creria que enviara Deus para o frio lá fora. E o povo zombaria de quem quer que dissesse que o Messias jaz nos braços de uma jovenzinha na periferia de sua cidade. Eles estavam todos ocupados demais para sequer considerar essa possibilidade.
Os que não assistiram à chegada de Sua Majestade naquela noite, não perderam a oportunidade por causa de atos perversos ou malícia; de modo algum, eles a perderam simplesmente porque não estavam olhando.O dono da hospedaria levantara mais cedo do que a maioria dos habitantes da cidade. Afinal de contas, a hospedaria estava cheia, com todas as camas ocupadas. Todo tapete ou esteira disponível tinha sido usado. Logo todos os fregueses começariam a levantar e haveria muito trabalho a fazer.
Nossa imaginação se inflama pensando na conversa do estalajadeiro com sua família à mesa do café. Alguém mencionou a chegada do casal jovem na noite anterior? Alguém cuidou deles? Alguém comentou a gravidez da moça no jumento? Talvez. Talvez alguém falou no assunto. Mas, na melhor das hipóteses, ele foi levantado e não discutido. Não havia tanta novidade assim sobre eles. Tratava-se possivelmente de uma das várias famílias que não pudera ser recebida naquela noite.
Além disso, quem tinha tempo para falar sobre eles quando havia tanta excitação no ar? César Augusto fez um favor à economia de Belém quando decretou que houvesse um recenseamento. Quem podia lembrar-se de uma época em que se fizesse tanto comércio na cidade?
Não, é duvidoso que alguém tivesse mencionado a chegada do casal ou atentasse na condição da moça. Todos estavam ocupados demais. O dia já raiara. O pão diário precisava ser feito. As tarefas da manhã tinham de ser feitas. Havia tanto para fazer que ninguém tinha tempo para ficar imaginando que o impossível acontecera.
Deus entrara no mundo como um bebê.
Mas se alguém entrasse no curral de ovelhas na periferia de Belém naquela manhã, que cena peculiar contemplaria.
O estábulo cheira como todos fazem. O mau cheiro provocado pela urina, excremento e ovelhas paira forte no ar. O chão é duro, o feno escasso. Teias de aranha pendem do teto e um ratinho atravessa correndo o chão sujo.
Não podia haver um lugar menos adequado a um nascimento.
De um lado se encontra um grupo de pastores. Eles estão sentados silenciosamente no solo, talvez perplexos, talvez reverentes, mas sem dúvida extasiados. Sua vigília noturna fora interrompida por uma explosão de luz dos céus e uma sinfonia de anjos. Deus vai até aqueles que têm tempo para ouvi-lo — e assim, naquela noite sem nuvens, ele fora até os simples pastores.
Junto à jovem mãe se assenta o pai cansado. Se alguém está cochilando, esse é ele. Não consegue lembrar-se da última vez em que pôde sentar-se. E agora que a excitação diminuiu um pouco, agora que Maria e o bebê estão confortáveis, ele se apóia na parede do estábulo e sente seus olhos se fecharem. Ele ainda não entendeu tudo. O mistério do evento o intriga. Mas não tem no momento energia para lutar com as perguntas. O importante é que a criança está bem e Maria a salvo. A medida que o sono vem, ele lembra do nome que o anjo lhe dissera para usar... Jesus. "Nós o chamaremos Jesus."
Maria está bem desperta. Como parece jovem! Sua cabeça repousa sobre o couro macio da sela de José. A dorfoi embora como por encanto. Ela olha para o rostinho da criança. Seu filho. Seu Senhor. Sua Majestade. Neste ponto da história, o ser humano que melhor compreende quem é Deus e o que ele está fazendo é uma adolescente num estábulo mal cheiroso. Ela não pode tirar os olhos dele. De alguma forma Maria sabe que está carregando Deus nos braços. Esse é então ele. Ela lembra as palavras do anjo. "O seu reinado não terá fim."
Ele parece qualquer coisa menos um rei. Seu rosto é avermelhado, lembrando uma ameixa seca. Seu choro, embora forte e saudável, continua sendo ainda o de um bebê indefeso, lancinante e agudo. Ele depende absolutamente de Maria para seu bem-estar.
Majestade em meio ao mundanismo. Santidade misturada à imundície do excremento e suor das ovelhas. A divindade entrando no mundo no chão de um estábulo, através do útero de uma adolescente e na presença de um carpinteiro.
Ela toca a face do Deus-menino. Como foi longa a sua jornada!
Esta criança superara o universo. Os trapos que o aquecem eram os mantos da eternidade. A sala dourada de seu trono fora esquecida em favor de um curral de ovelhas imundo. E os anjos adoradores foram substituídos por pastores bondosos mas perplexos.
Enquanto isso a cidade fervilha. Os mercadores não sabem que Deus visitou o seu planeta. O estalajadeiro jamais creria que enviara Deus para o frio lá fora. E o povo zombaria de quem quer que dissesse que o Messias jaz nos braços de uma jovenzinha na periferia de sua cidade. Eles estavam todos ocupados demais para sequer considerar essa possibilidade.
Pouco mudou nesses últimos dois mil anos, não é?
"Um Momento...”
Tudo aconteceu num momento, um momento dos mais notáveis.
No que se refere a momentos, esse não parecia diferente dos outros. Se você pudesse de alguma forma tirá-lo da linha do tempo e examiná-lo, ele pareceria exatamente igual àqueles que passaram enquanto você lia estas palavras. Ele veio e foi embora. Foi precedido e sucedido por outros justamente como ele. Foi um dos incontáveis momentos que marcaram o tempo desde que a eternidade pôde ser medida.
Mas, na realidade, esse momento particular não foi como nenhum outro. Porque através desse segmento de tempo ocorreu algo espetacular. Deus tornou-se homem. Enquanto as criaturas da terra andavam descuidadas, a Divindade chegou. Os céus se abriram e colocaram seu bem mais precioso num útero humano.
O onipotente, em um instante, se tornou frágil. O que fora espírito se tornou palpável. Ele que era maior que o universo veio a ser um embrião. E aquele que sustém o mundo com uma palavra decidiu depender para sua nutrição de uma jovenzinha.
Deus como um feto. A santidade adormecida num ventre. O criador da vida sendo criado.
Deus ganhou sobrancelhas, cotovelos, dois rins e um baço. Ele se esticou contra as paredes, e flutuou no líquido amniótico da mãe.
Deus se aproximara.
Ele veio, não como um lampejo de luz ou como um conquistador inacessível, mas como alguém cujos primeiros gritos foram ouvidos por uma camponesa e um carpinteiro sonolento. As mãos que o sustentaram pela primeira vez eram calosas e sujas, mal cuidadas.
Nenhuma seda. Nenhum marfim. Nenhuma festa. Nenhuma pompa.
Se não fosse pelos pastores, não teria havido recepção. E se não fosse por um grupo de contempladores de estrelas, não haveria presentes.
Os anjos olhavam enquanto Maria trocava as fraldas de Deus. O universo observava maravilhado enquanto o Todo-poderoso aprendia a andar. Crianças brincaram na rua com ele. E se o líder da sinagoga em Nazaré soubesse quem estava ouvindo os seus sermões...
Jesus talvez tenha tido espinhas. Ele quem sabe não tinha boa voz. Uma garota da mesma rua pode ter-se interessado por ele e vice-versa. E possível que seus joelhos fossem ossudos. Uma coisa é certa: Embora completamente divino, Ele era completamente humano.
Durante trinta e três anos ele sentiu tudo que você e eu já sentimos. Sentiu-se fraco. Cansou-se. Temeu o fracasso. Gostava do sexo oposto. Pegou resfriados, teve problemas com o estômago e transpirava. Seus sentimentos ficavam feridos. Seus pés se cansavam e sua cabeça doía.
Pensar em Jesus dessa forma parece até quase irreverente, não é? Não é algo que gostemos de fazer, sentimo-nos pouco confortáveis. E muito mais fácil manter a humanidade fora da encarnação. Limpar a sujeira em volta do estábulo. Limpar o suor dos seus olhos. Pretender que ele nunca roncou, limpou o nariz ou bateu com o martelo no dedo.
E mais fácil aceitá-lo desse modo. Há alguma coisa sobre mantê-lo divino que o conserva distante, acondicionado, previsível.
Mas não faça isso. Por favor, não faça. Permita que ele seja humano como pretendeu ser. Deixe que entre na sujeira e no lixo de nosso mundo. Pois só se o deixarmos entrar é que ele pode tirar-nos dele.
Ouça suas palavras.
"Ame seu próximo" foi dito por um homem cujos vizinhos quiseram matá-lo.
O desafio para deixar a família em favor do evangelho foi feito por alguém que despediu-se da mãe com um beijo na porta de casa.
"Ore pelos que o perseguem" veio dos lábios que logo estariam suplicando que Deus perdoasse seus assassinos.
"Estarei sempre com você" são as palavras de um Deus que num instante fez o impossível, a fim de tornar tudo possível para você e para mim.
Tudo aconteceu num instante. Num momento... um momento memorável. O Verbo se fez carne.
Haverá outro. O mundo verá outra transformação instantânea. Veja bem, ao tornar-se homem, Deus possibilitou ao homem ver Deus. Quando Jesus foi para casa ele deixou aberta a porta de trás. Como resultado "transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos".
O primeiro momento de transformação não foi notado pelo mundo. Mas pode estar certo que isso não acontecerá com o segundo. Da próxima vez em que disser "um momento...", lembre-se que esse é todo tempo que vai ser necessário para mudar o mundo.